Das vontades que tenho...

Autora: Yanca K.


Mudar o mundo não está entre elas.

Não sou pacifista, não. Só não quero algo tão amplo.
Quero deitar na cama e ler um bom livro, mesmo com a cabeça pendendo de sono. Jogar uma tarde fora vendo filmes ruins, e me entupir de pipoca. Passar a noite acordada escrevendo coisas desconexas (como esse, aliás!), olhar pras as nuvens procurando formas conhecidas e criar algumas. Arranjar brigas, andar descalça pela casa, soltar pipa, me equilibrar no paralelepípedo e mascar chiclete de tuti-fruti.
Das vontades que tenho busco a simplicidade em cada uma delas.
Pra, então, ser mais feliz.

Pois...


Faz uma falta grande demais. Dói pensar que eu nunca mais vou fazer aquilo que eu mais gostei. Dói abandonar uma página da vida, não dói? Dói demais, assusta e você recua, até não ter mais jeito. Pois bem, acabou. Então o que começa agora? Vai ainda demorar? Senão eu volto.
Eu sou capaz de voltar atrás? Pois que é preciso uma coragem imensa pra tal, quando se diz por covardia. Pois serei corajosa ou covarde? Ambos? Pois que também é preciso coragem pra seguir em frente, ou mais ainda, pra mudar. Mudarei? Conseguirei? Pois, se eu conseguir, voltarei. Ou esquecerei os anos mais felizes da minha vida, os mais idealizados, sonhados e que com tanto esforço conquistei? Poderei esquecê-los? Os anos? As vidas que conheci e que deixei e que amei e que odiei. Poderei? Farei?
Talvez. Acostumamo-nos à mudança também, sei disso. Mas acho que sei o que quero também. Mas sei? Só acho que sei. Pois sei que choro sempre, e por isso chorei uma noite apenas. Significaria muito ou pouco? Pois sei que ainda amo meu passado e que preciso crescer pra encarar meu futuro. Sei, mas farei? Também sei que amanhã é carnaval, e depois também, sábado eu tenho provas, sei que tenho que estudar, sei que mais importante que as provas são o vestibular, sei que não organizei parágrafos, sei que não tive uma nota boa na primeira etapa, sei... Sei?

Angela G.

Qual a paz que eu não quero conservar ?


Autora: Angela G.


Mais uma crise de identidade. "É pela paz que eu não quero seguir admitindo" sentar no sofá e decorar os comerciais, todos os dias, e esquecer meus livros, não por querer, eu os clamo, mas eles não vêm, então essa força que me prende ao sofá, continua me prendendo. Essa força não é imaginária, ou invísivel, grito o tempo inteiro pras cordas me soltarem, e quero chorar e fugir, dormir. Deus, como eu quero dormir!
As cordas fingem gostar de mim, fingem me amar, e eu finjo à elas, ou as amo ? Eu as amo, eu as deixo prender-me aqui, para sempre e sempre, e sorrirei. Eu as amo. Mas quero amá-las? "Qual a paz que eu não quero conservar pra tentar ser feliz?" Quero, ainda, amá-las? Deus, como eu quero ter coragem, "pois paz sem voz, não é paz, é medo."
Deixarei mais um dia, outro domingo, mesma TV, mesmo sofá, mesmas cordas e também amanhã. Não ouso pedir : "Me abrace e me dê um beijo, faça um filho comigo, mas não me deixe sentar na poltrona num dia de domingo!" , ou implorar. Continuo calada, sentada, interpretando meu melhor papel de sossego, mas continuo gritando, gritando, e elas não me soltam. Mas poderiam, quando minha interpretação não é, senão, adorável?


Créditos: "Minha Alma - O Rappa"

Gentes


Autora: Angela G.

Sabe o que eu faço? Rio de mau-humor! É até agradável... a insatisfação, de certo modo, me satisfaz. Sempre um mau-humorada deixa-me risonha. Eles são incrivelmente engraçados. Só não rio do meu próprio desagrado.
Gosto de gente mal-humorada, de gente engraçada, de gente feliz... todas me fazem rir, mas gente que faz graça, não me agrada. Digo que tenta ser engraçado, que tenta... bem, que tenta. Tenta tanto que me incomoda. Não gosto dessas gentes.
Gosto de gente que queira conversar, gosto de escutar. Mas, às vezes, quero falar. Tem gente que fala demais e me incomoda também, porque prefiro ler um livro. Tem gente que já não fala. Acho essas gentes mais engraçadas ainda!
Ah, tem umas gentes fantásticas! Umas que me contam suas vidas todos os dias, Umas que não me cumprimentam, Umas que eu não conheço, Umas que me pedem ajuda, Umas que me atrapalham, Umas que só não me ajudam, Umas que não gostam de mim, Umas que eu não gosto, Umas que moram comigo, Umas que perdem tempo comigo, Umas com quem perco tempo, Umas que comem, Umas que não comem, Umas que correm, Umas que dormem, Umas que estudam, Umas que leem, Umas que assistem novelas, Umas que moram longe, Umas que moram aqui do lado, Umas que são iguais ao resto.
Gosto dessas gentes todas, muitíssimo! Mas agradam-me mais longe.

A Garota da Blusa Verde


Autora: Yanca K.


A menina de blusa verde trazia seus cadernos nos braços, fortemente abraçados de encontro ao peito. Como se quisesse protegê-los. No entanto ela protegia a si mesma.
Os nós de seus dedos estavam esbranquiçados de tanto apertar a beirada do material.
Ela olhava de um lado para o outro, no corredor da escola . Os pés se movendo rapidamente, encavalando-se. Quase correndo.
O cabelo bem-penteado se mexia de um lado para o outro, enquanto ela dobrava os corredores.
Infelizmente ela não era invisível – como as pessoas do clube de xadrez. Ela era notada. E isso a incomodava.
Ela não era feia, tampouco esquisita. Era misteriosa e amigável. Tinha belos olhos cinzentos e uma fala delicada. As pessoas gostavam da garota de blusa verde, mas ela fugia delas.
Ela tinha medo.
A garota tinha tudo. Exceto uma coisa. E por isso ela fugia, querendo chegar depressa a sala de aula.
Mas, principalmente, ela tinha medo.
Então ela corria, tentando passar por despercebida; não dava certo. Alguém sempre gritava “Ei, moça!”. E ela corria. Até as pernas cansarem, já distante.
Ela dobrava os corredores. Os olhos atentos. De um lado a outro. E, por incrível que pareça, ela sempre chegava atrasada as aulas. A garota da blusa verde sempre chegava tarde. Sempre. Sempre.
Chegava atrasada pois tinha medo.
E ia se sentar, estabanada. O sinal já havia tocado e a chamada sido feita, quando ela entrava na sala de aula. Era tudo precaução. Pois ela tinha medo.
Tinha muito medo.
Temia pela única coisa que ela não possuía. A garota da blusa verde temia que descobrissem que ela não tinha um nome.
E então ela seria para sempre “A Garota Da Blusa Verde”.

Canções;


Autora: Yanca K.
Dedicado à: JakeD, a Bibus fodona no piano, e a Lê s2.


Seus dedos corriam graciosamente por sobre as teclas, apertando-as simultaneamente e depois uma a uma. Com muito afinco.
A melodia ecoava pela casa vazia e era indescritivelmente bela, quando ele tocava piano.
E ele se sentia bem quando o fazia. Se sentia vívido. Como se cada acorde o completasse. Cada nota parecia curar uma ferida em seu íntimo. E as feridas se tornavam apenas cicatrizes, marcas da lembrança.
Seu coração parecia mais forte, revitalizado, no apogeu da canção. Era frenético, ele gostava disso; Das paredes vibrando, das ondas sonoras e da pulsação firme.
Agora os dedos moviam-se mais lentamente. As notas pairavam cautelosamente no ar. A música se acalmava, preparando-se para seu melancólico fim.
E então chegara.
A última tecla. A última nota. A vibração final.
E se extinguiu, juntamente com a última batida do coração dele.
Naquele silêncio, os dois morriam.

Um

Autor: Angela G.

Gosto dos olhos dele. São grandes, marcantes. Mesclam seus mais diversos sentimentos de acordo com os momentos, e sempre têm um ar de displicência que os torna irresistíveis.
Não faço ideia se essa característica existe pelo também interessante formato das sobrancelhas. Grossas, desenham no rosto uma expressão imponente; às vezes que passa medo ou de uma simpatia admirável.
A boca... Ah! A boca! É preciso um livro...
Os cabelos pretos, lisos, caem de forma linda quando, num charme, ajeita-os. Me fascina. Acho que me apaixonei por eles antes.
O pescoço desce de encontro com as linhas dos ombros largos, másculos e os braços definidos, fortes, sempre me deram certa impressão de segurança.
Adoro os músculos e ossos do peito e barriga. Adoro sua força e o resto, por inteiro. O cheiro, mesmo suado, me atrai, e eu sempre vou, sempre. Mas ele vem antes e me seduz, como bem sabe e não posso contestar.
Fico parada, observando enquanto ele caminha na minha direção, o olhar meio tímido, mesmo assim elegante. Imagino a camisa meio aberta, um quase sorriso nos lábios e os olhos, fixos em mim, não como meio meu, mas meu inteiro e único.






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