Gentes


Autora: Angela G.

Sabe o que eu faço? Rio de mau-humor! É até agradável... a insatisfação, de certo modo, me satisfaz. Sempre um mau-humorada deixa-me risonha. Eles são incrivelmente engraçados. Só não rio do meu próprio desagrado.
Gosto de gente mal-humorada, de gente engraçada, de gente feliz... todas me fazem rir, mas gente que faz graça, não me agrada. Digo que tenta ser engraçado, que tenta... bem, que tenta. Tenta tanto que me incomoda. Não gosto dessas gentes.
Gosto de gente que queira conversar, gosto de escutar. Mas, às vezes, quero falar. Tem gente que fala demais e me incomoda também, porque prefiro ler um livro. Tem gente que já não fala. Acho essas gentes mais engraçadas ainda!
Ah, tem umas gentes fantásticas! Umas que me contam suas vidas todos os dias, Umas que não me cumprimentam, Umas que eu não conheço, Umas que me pedem ajuda, Umas que me atrapalham, Umas que só não me ajudam, Umas que não gostam de mim, Umas que eu não gosto, Umas que moram comigo, Umas que perdem tempo comigo, Umas com quem perco tempo, Umas que comem, Umas que não comem, Umas que correm, Umas que dormem, Umas que estudam, Umas que leem, Umas que assistem novelas, Umas que moram longe, Umas que moram aqui do lado, Umas que são iguais ao resto.
Gosto dessas gentes todas, muitíssimo! Mas agradam-me mais longe.

A Garota da Blusa Verde


Autora: Yanca K.


A menina de blusa verde trazia seus cadernos nos braços, fortemente abraçados de encontro ao peito. Como se quisesse protegê-los. No entanto ela protegia a si mesma.
Os nós de seus dedos estavam esbranquiçados de tanto apertar a beirada do material.
Ela olhava de um lado para o outro, no corredor da escola . Os pés se movendo rapidamente, encavalando-se. Quase correndo.
O cabelo bem-penteado se mexia de um lado para o outro, enquanto ela dobrava os corredores.
Infelizmente ela não era invisível – como as pessoas do clube de xadrez. Ela era notada. E isso a incomodava.
Ela não era feia, tampouco esquisita. Era misteriosa e amigável. Tinha belos olhos cinzentos e uma fala delicada. As pessoas gostavam da garota de blusa verde, mas ela fugia delas.
Ela tinha medo.
A garota tinha tudo. Exceto uma coisa. E por isso ela fugia, querendo chegar depressa a sala de aula.
Mas, principalmente, ela tinha medo.
Então ela corria, tentando passar por despercebida; não dava certo. Alguém sempre gritava “Ei, moça!”. E ela corria. Até as pernas cansarem, já distante.
Ela dobrava os corredores. Os olhos atentos. De um lado a outro. E, por incrível que pareça, ela sempre chegava atrasada as aulas. A garota da blusa verde sempre chegava tarde. Sempre. Sempre.
Chegava atrasada pois tinha medo.
E ia se sentar, estabanada. O sinal já havia tocado e a chamada sido feita, quando ela entrava na sala de aula. Era tudo precaução. Pois ela tinha medo.
Tinha muito medo.
Temia pela única coisa que ela não possuía. A garota da blusa verde temia que descobrissem que ela não tinha um nome.
E então ela seria para sempre “A Garota Da Blusa Verde”.

Canções;


Autora: Yanca K.
Dedicado à: JakeD, a Bibus fodona no piano, e a Lê s2.


Seus dedos corriam graciosamente por sobre as teclas, apertando-as simultaneamente e depois uma a uma. Com muito afinco.
A melodia ecoava pela casa vazia e era indescritivelmente bela, quando ele tocava piano.
E ele se sentia bem quando o fazia. Se sentia vívido. Como se cada acorde o completasse. Cada nota parecia curar uma ferida em seu íntimo. E as feridas se tornavam apenas cicatrizes, marcas da lembrança.
Seu coração parecia mais forte, revitalizado, no apogeu da canção. Era frenético, ele gostava disso; Das paredes vibrando, das ondas sonoras e da pulsação firme.
Agora os dedos moviam-se mais lentamente. As notas pairavam cautelosamente no ar. A música se acalmava, preparando-se para seu melancólico fim.
E então chegara.
A última tecla. A última nota. A vibração final.
E se extinguiu, juntamente com a última batida do coração dele.
Naquele silêncio, os dois morriam.






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