Mania de capitalismo


Autor: Angela G.


Nunca gostei mesmo disto, desde pequena. Todas as menininhas queriam ser médicas, ou dentistas e os menininhos médicos também, ou bombeiros ou policiais. Eu só sabia que não queria ser nenhuma dessas coisas.
Parece-me tão tolo ter ambições desse tamanho e pior, iguais as que os pais querem. Não que minha mãe não fosse do grupo de pais que estimulam os filhos a entrar na alienação das escolhas de profissão, acho que ela só entendia minha criancisse, ou esperava que eu escolhesse "sozinha" uma dessas coisas. Bem... se não fosse também, ela entrou no grupo muito rápido ultimamente. E que grupo imenso.
Ele é tão imponente que abrange não só os pais, mas quase a população mundial inteira. Os que optam por frequentar os cursos menos concorridos ou são burros ou não levaram seu colegial à sério. De verdade, isso acontece. Não vêem que os cursos são menos concorridos porque a saturação é grande nas modinhas, claro que não, são cursos mais fáceis, pra quem não quer estudar. Etc.
Coisa de gente de cabeça capitalista, e só. Não que eu defenda um socialismo ou coisa parecida, só não defendo a mania do capitalismo de querer ganhar, ganhar, ganhar e ganhar mais dinheiro. Sempre assim. Ora, se eu escolher ser professora primária não vou deixar de ganhar dinheiro. Claro que também não ganharei 50 mil por mês, mas por que diabos eu quereria tanto?
Minha atual cabeça de 15 anos de idade e todas as minhas cabeças anteriores (de 14, 13, 12,...5) preferem fazer o que gostam e crescer muito intelectualmente, do que crescer muito fincanceiramente. Pode ser que o último crescimento venha por consequência do primeiro, não o recuso, mas de outra forma, e se vier para que minhas próximas cabeças encurtem de tamanho visando apenas a rotina do capitalismo, não, que não venha. Nunca.

Mentir pra si mesmo e acreditar, é o bastante.


Autora: Yanca K.
(obs: é meio grandinho, mas leia assim mesmo :D )



Ela não era bonita, tão pouco inteligente. Cabelos longos, padronizados, e olhos castanhos ocre. Um olhar unanime, como tantos outros. Um rosto redondo e rosado, um sorriso simpático e comum; Às vezes deixava-se voar demais, em outras nem tirava os pés do chão. Era uma garota normal, apenas.
Não gostava de todas as atenções, mas não as dispensava completamente. Gostava dos seres e desgostava das pessoas, assim simplesmente. Não era completamente feliz, sendo assim era metade triste.
Sorria sempre que necessário e fazia-se agradável. Possuía alguns argumentos, que convenciam a todos, exceto a si própria.
Conversava, andava pelo gramado verde, ia à escola e era normal. Embalava-se no balanço com os pés descalços arrastando pela areia áspera, assentava-se e fazia a lição. Chorava quando castigada e crescia cada dia mais. Sempre assim, nessa rotina de não possuir rotina, e ser normal.
Saia para festas e passava da infância, sem nunca retornar a esta. Andava já grande, mas ainda sim insignificante. Buscava não ser muito infantil, nem mesmo bastante adulta. O tempo passava sem que a garota percebesse. As pessoas perguntavam-lhe sobre o futuro e ela adiava-o por medo.
O futuro era uma questão bastante ampla, apoiava-se no passado, ao mesmo tempo em que necessitava de suas escolhas feitas no presente e de sua vocação. Vocação que ela percebeu não possuir. Ela não era boa em nada considerável. Não era boa dançarina, não era boa escritora. Não conseguia concentrar-se ou argumentar. Não gostava de lidar com gentes, não conseguia ensinar. Não tinha paciência ou dom musical. Suas escolhas poderiam salvar-lhe, caso ela não fosse decididamente indecisa.
Então a garota esforçou-se, retomou um pouco de tempo e tentou achar seus talentos. Não foi completamente em vão, porém não foi também suficiente. As pessoas, os seres, o tempo a pressão continuavam a atormentá-la. Como se não fosse bastante, a sociedade em que ela vivia achava tudo isso completamente normal. E aquela garota nada mais era do que comum e normal, aceite então querida.
Ela embalava a vida, apressada. O futuro ainda a aguardava, angustiando-a. E o relógio não parava nunca seu ‘Tique-Taque’. Existia agora pouco tempo para que ela tomasse suas decisões, para que ela encontrasse suas vontades, virtudes e vocações.
Continuavam a lhe perguntar sobre a vida, e como vira todos fazerem, ela sorria e respondia que tudo estava bem. Sempre bem, não é? No entanto não era exatamente assim que ela se sentia, não sempre.
Em um dia nem tão belo, como repetem todos os contos de fadas, a garota respondia mais uma vez que tudo andava bem, quando caiu em si. Naquele momento percebera o quanto hipócrita fora por andar mentindo e se deixando levar pela unanimidade estúpida. Descobriu também, neste mesmo momento, sua vocação, seu talento, seu dom. E ELA O USARA O TEMPO TODO! Era apenas mentir, a única coisa que ela fazia bem tentando enganar a si mesma.
Fizeram novamente a pergunta sobre seu futuro, e então ela riu livremente e respondeu que estava preparada e aguardando, muito provavelmente usando seu mais persistente talento.

Não quero

Autor: Angela G.


Revoltei. Não parece, mas é. Eu escrevo minha rotina e quero mesmo, de verdade, seguí-la, então eu tenho sono e quero mais pensar, sentir e dormir que seguir minha rotina. Não sei se é a falta de sentido, não sei. Não quero mais fazer, fazer, fazer. Quero tanto ler meus livros em paz, e ouvir música... muita, aquelas que me acalmam, me fazem pensar, depois quero dançá-las. Todas.
Quero, no meu futuro, não fazer nada e envelhecer quieta. Passar meus dias rindo e brincando num lugar cheio de verde. Lá tem redes, grama, livros espalhados e organizados, ou não. Lá tem o meu amor, e ele ri comigo, dorme comigo, corre e brinca de me pegar na grama. Talvez meu amor durma e eu não, pra olhar pra ele e ter lembranças.
Sabe o que me deixa nesse estado de protesto? É a saudade. Todo mundo fala que tem saudade. Da infância, adolescência, quinze, dezesseis... até dezoito. Quero ter saudade não, quero nunca ir pra faculdade e montar uma sozinha. Vou aprender com os livros, escrever sobre eles e sobre o que eu vivo. Por que não posso ganhar com isso?
Quero continuar andando no paralelepípedo e olhando pro céu, alegre.
Chegar atrasada e não ter muitos modos. Ser divertida. Chata. Brava pra alguns e única pra poucos. Eu mesma, todos os dias, todas as horas e assim ser.
Quero acordar muito mal humorada, dançar e voltar a ser contente.
Quero acordar muito alegre e brigar com todos os pessimistas da rua.
Quero defender minhas ideias pro resto da vida, sem aceitar a dos outros.
Posso só respeitá-las.
Quero ainda ter argumentos pra tudo e não me deparar com "nunca pensei sobre isso".
Não é que eu queira ser criança a vida toda, só não quero ser adulto.






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