Mentir pra si mesmo e acreditar, é o bastante.


Autora: Yanca K.
(obs: é meio grandinho, mas leia assim mesmo :D )



Ela não era bonita, tão pouco inteligente. Cabelos longos, padronizados, e olhos castanhos ocre. Um olhar unanime, como tantos outros. Um rosto redondo e rosado, um sorriso simpático e comum; Às vezes deixava-se voar demais, em outras nem tirava os pés do chão. Era uma garota normal, apenas.
Não gostava de todas as atenções, mas não as dispensava completamente. Gostava dos seres e desgostava das pessoas, assim simplesmente. Não era completamente feliz, sendo assim era metade triste.
Sorria sempre que necessário e fazia-se agradável. Possuía alguns argumentos, que convenciam a todos, exceto a si própria.
Conversava, andava pelo gramado verde, ia à escola e era normal. Embalava-se no balanço com os pés descalços arrastando pela areia áspera, assentava-se e fazia a lição. Chorava quando castigada e crescia cada dia mais. Sempre assim, nessa rotina de não possuir rotina, e ser normal.
Saia para festas e passava da infância, sem nunca retornar a esta. Andava já grande, mas ainda sim insignificante. Buscava não ser muito infantil, nem mesmo bastante adulta. O tempo passava sem que a garota percebesse. As pessoas perguntavam-lhe sobre o futuro e ela adiava-o por medo.
O futuro era uma questão bastante ampla, apoiava-se no passado, ao mesmo tempo em que necessitava de suas escolhas feitas no presente e de sua vocação. Vocação que ela percebeu não possuir. Ela não era boa em nada considerável. Não era boa dançarina, não era boa escritora. Não conseguia concentrar-se ou argumentar. Não gostava de lidar com gentes, não conseguia ensinar. Não tinha paciência ou dom musical. Suas escolhas poderiam salvar-lhe, caso ela não fosse decididamente indecisa.
Então a garota esforçou-se, retomou um pouco de tempo e tentou achar seus talentos. Não foi completamente em vão, porém não foi também suficiente. As pessoas, os seres, o tempo a pressão continuavam a atormentá-la. Como se não fosse bastante, a sociedade em que ela vivia achava tudo isso completamente normal. E aquela garota nada mais era do que comum e normal, aceite então querida.
Ela embalava a vida, apressada. O futuro ainda a aguardava, angustiando-a. E o relógio não parava nunca seu ‘Tique-Taque’. Existia agora pouco tempo para que ela tomasse suas decisões, para que ela encontrasse suas vontades, virtudes e vocações.
Continuavam a lhe perguntar sobre a vida, e como vira todos fazerem, ela sorria e respondia que tudo estava bem. Sempre bem, não é? No entanto não era exatamente assim que ela se sentia, não sempre.
Em um dia nem tão belo, como repetem todos os contos de fadas, a garota respondia mais uma vez que tudo andava bem, quando caiu em si. Naquele momento percebera o quanto hipócrita fora por andar mentindo e se deixando levar pela unanimidade estúpida. Descobriu também, neste mesmo momento, sua vocação, seu talento, seu dom. E ELA O USARA O TEMPO TODO! Era apenas mentir, a única coisa que ela fazia bem tentando enganar a si mesma.
Fizeram novamente a pergunta sobre seu futuro, e então ela riu livremente e respondeu que estava preparada e aguardando, muito provavelmente usando seu mais persistente talento.

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